Estudo publicado no European Journal of Clinical Nutrition divulgou que o consumo moderado de álcool favorece um bom perfil clínico e biológico, constituindo baixo risco para doenças cardiovasculares (DC).
O objetivo do estudo foi avaliar diversas variáveis que poderiam influenciar na relação do consumo de álcool e riscos para DC em uma grande população francesa, cuja ingestão média de álcool é uma das mais altas do mundo.
Durante seis anos, o estudo coletou dados de aproximadamente 150 mil franceses (97.406 homens de 47 ± 15 anos e 52.367 mulheres de 47 ± 12 anos). Para analisar a relação entre o consumo de álcool e o risco para DC os autores calcularam uma série de variáveis em relação a saúde geral, como fatores sociais, saúde mental, função respiratória, função cardíaca e medidas antropométricas.
O consumo total de álcool (somatória de todas as bebidas alcoólicas) aumentou com a idade em ambos os sexos, exceto no grupo de pessoas mais jovens (< 30 anos de idade). A bebida mais consumida foi o vinho, em comparação a outras bebidas como cerveja, cidra, entre outras (p < 0,0001).
Apenas 9,2% dos homens não bebiam, 47,8% bebiam pouco (< 1 copo/dia), 24,9% bebiam moderadamente (entre 1 a 3 copos/dia) e 13,7% bebiam bastante (> 3 copos/dia). Já entre as mulheres estes valores mudaram para 20,1% para aquelas que não bebiam, 58,4% com consumo baixo, 14,7% com consumo moderado e 3,0% com consumo alto. A medida utilizada (1 copo) equivalia a 10g de álcool.
Entre as mulheres, o índice de massa corporal (IMC), a circunferência da cintura, a circunferência do quadril, a relação cintura/quadril, a prevalência de obesidade (IMC > 30 kg/m2) e a pressão sanguínea foram mais baixas nas consumidoras moderadas de álcool e altos quando comparadas aquelas que não bebiam. Não houve relação entre as medidas antropométricas dos homens e o consumo de álcool.
Houve uma relação positiva significativa entre o hábito de beber e a prática de exercício física. Entre as mulheres, as que tinham ingestão moderada de álcool declararam praticar mais atividades físicas do que os outros grupos. Diferentemente nos homens, os que mais praticavam atividades físicas eram aqueles que não bebiam. Em ambos os sexos, a função respiratória era maior no grupo que consumia álcool moderadamente e menor naqueles que não ingeriam as bebidas.
A proporção de pessoas com uma avaliação ruim do estado de saúde foi em geral baixa entre os consumidores de álcool com consumo moderado e alta, comparados com aqueles que não bebiam.
Em ambos os sexos, o nível de colesterol total plasmático foi positivamente associado com o consumo de álcool. Os menores níveis foram observados nos indivíduos que não consumiam bebida alcoólica, enquanto os níveis mais altos estavam presentes entre aqueles com alta ingestão de álcool. As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) também foram positivamente associadas com o consumo de álcool em homens, mas nas mulheres, os menores valores de LDL foram encontrados entre as que consumiam álcool com moderação. Baixos níveis plasmáticos de triglicerídeos e glicemia de jejum foram observados entre homens e mulheres com baixo ou moderado consumo de álcool. Os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL) estavam mais baixos entre os indivíduos que não bebiam e aumentavam proporcionalmente com o aumento de álcool, independente do tipo de bebida consumida.
“Por mais que nosso estudo e alguns estudos anteriores tenham verificado esta relação entre o álcool, aumento dos níveis de HDL e consequente redução de risco para doenças cardiovasculares, os dados ainda são limitados e não se pode afirmar que este efeito seja benéfico”, dizem os autores.
“Nossos dados mostram que as variáveis sociais, clínicas e biológicas variaram conforme o hábito de ingestão individual de álcool. Outros estudos também apontam estas questões e dizem que as pessoas que bebem álcool moderadamente, particularmente vinho, têm em geral uma dieta e hábitos de vida mais saudáveis do que quem não bebe ou quem consome grandes quantidades de álcool. Podemos concluir que consumir álcool moderadamente manifesta no indivíduo um estado de saúde com menor risco para o desenvolvimento doenças cardiovasculares”, afirmam os autores.
Referência(s)
Hansel B, Thomas F, Pannier B, Bean K, Kontush A, Chapman MJ, Guize L, ET al. Relationship between alcohol intake, health and social status and cardiovascular risk factors in the urban Paris-Ile-De-France Cohort: is the cardioprotective action of alcohol a myth? EJCN. 2010;64:561–8.
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