Pesquisadores da Universidade de Reading, Reino Unido, investigaram o papel de flavonoides do cacau na ação prebiótica. O estudo foi publicado na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition e concluiu, pela primeira vez, que um flavonoide pode possuir atividade prebiótica, afetando significativamente o crescimento da microbiota intestinal benéfica.
As procianidinas são os flavonoides predominantemente encontrados no cacau e seus subprodutos. Estudos anteriores mostraram que os flavonoides do cacau possuem efeitos benéficos na diminuição do LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade) e da agregação plaquetária, além de melhorar a sensibilidade à insulina e a função endotelial. No entanto, a maioria das procianidinas do cacau não são absorvidas no intestino delgado e assim, passam para o intestino grosso onde podem influenciar a composição da microbiota residente.
Deste modo, o objetivo do estudo foi validar o potencial prebiótico de flavonoides do cacau em indivíduos saudáveis através de um estudo randomizado, duplo-cego, controlado e cruzado.
O estudo consistiu de 22 voluntários que foram divididos em dois grupos: alta concentração de flavonoides do cacau (grupo HCF), com 494 mg/d ou com baixa concentração de flavonoides do cacau (grupo LCF), com 29 mg/d durante 4 semanas. Os participantes foram instruídos a misturar o conteúdo de um sachê contendo os flavonoides em 150 mL de água, uma vez por dia, após a refeição da noite. Após o período de suplementação de quatro semanas, os participantes trocaram de grupo, ou seja, quem estava no grupo de alta dose passou para o grupo de baixa dose e vice-versa, caracterizando o cruzamento do estudo.
Para avaliar a composição da microbiota intestinal foram analisadas amostras de fezes dos participantes, antes e após cada intervenção. Além disso, foram coletadas amostras de sangue para dosagens de lipídios plasmáticos e proteina C-reativa (PCR).
No grupo HCF houve elevação significativa das bactérias benéficas, como Bifidobacterium (p<0,01) e Lactobacillus (p<0,001) e diminuição na contagem de bactérias patogênicas, como Clostridium (p<0,001) em comparação com o grupo LCF. Essas mudanças na microbiota intestinal também foram acompanhadas por reduções significativas nas concentrações de triacilglicerídeos (p<0,05) e proteína C-reativa (p<0,05).
A microbiota intestinal pode ser modulada pela utilização de pré e probióticos. Os prebióticos eficazes possuem baixa digestibilidade e biodisponibilidade, além de serem seletivos para o crescimento e metabolismo de bactérias benéficas.
Atualmente, os prebióticos mais usados são frutooligossacarídeos e galactooligossacarídeos, que melhoram o crescimento de Bifidobacterium e influenciam positivamente a absorção de minerais, metabolismo lipídico e sistema imunológico.
“Até o momento haviam informações limitadas quanto à capacidade dos flavonoides em influenciar o crescimento de bactérias intestinais”, comentam os pesquisadores.
“As alterações observadas ressaltam a capacidade desses flavonoides em induzir efeitos específicos no intestino, tornando-se um efeito adicional de fitonutrientes para a saúde. Embora mais estudos sejam necessários para confirmar esses achados, os resultados deste estudo sugerem que os componentes do cacau podem contribuir na saúde dos indivívuos”, concluem.
Referência(s)
Tzounis X, Rodriguez-Mateos A, Vulevic J, Gibson GR, Kwik-Uribe C, Spencer JP. Prebiotic evaluation of cocoa-derived flavanols in healthy humans by using a randomized, controlled, double-blind, crossover intervention study. Am J Clin Nutr. 2010 Nov 10. [Epub ahead of print]
Nenhum comentário:
Postar um comentário