Apesar de não haver um consenso sobre o tratamento da deficiência da vitamina B12 em indivíduos "assintomáticos" e que fazem uso de metformina, estudos mostram que alguns sintomas da deficiência desta vitamina são difíceis de diagnosticar e podem ser irreversíveis. Assim, deve-se levar em consideração que a suplementação de vitamina B12 é relativamente fácil, segura e eficaz, o que favorece o uso de suplementos para o tratamento precoce da deficiência desta vitamina.
A metformina é considerada um marco no tratamento do diabetes, sendo o medicamento mais prescrito para os indivíduos com diabetes tipo 2. Entretanto, o tratamento em longo prazo com este medicamento aumenta o risco de deficiência de vitamina B12, resultando na elevação nas concentrações séricas de homocisteína, um importante fator de risco para doenças cardiovasculares, especialmente entre os indivíduos com diabetes tipo 2.
A deficiência de vitamina B12 é evitável, sendo assim, recomenda-se a realização de dosagens regulares da concentração sérica de vitamina B12 durante o tratamento prolongado com metformina.
Essas conclusões são de um estudo clínico randomizado, multicêntrico, placebo controlado, que avaliou a incidência de deficiência de vitamina B12 (<150 pmol/L), baixas concentrações de vitamina B12 (150-220 pmol/L) e concentrações de folato e homocisteína em 390 pacientes com diabetes tipo 2 e que faziam uso de metformina.
É importante levar em consideração que a baixa concentração sérica de vitamina B12 também pode resultar em outras complicações clínicas como a anemia macrocítica e neuropatia.
Assim, a avaliação rotineira dos níveis de vitamina B12 durante o tratamento em longo prazo com metformina se faz necessária, para que sejam definidas as estratégias de prevenção e tratamento de deficiência desta vitamina.
Bibliografia (s)
de Jager J, Kooy A, Lehert P, Wulffelé MG, van der Kolk J, Bets D, et al. Long term treatment with metformin in patients with type 2 diabetes and risk of vitamin B-12 deficiency: randomised placebo controlled trial. BMJ. 2010;340:c2181.
Ting RZ, Szeto CC, Chan MH, Ma KK, Chow KM. Risk factors of vitamin B(12) deficiency in patients receiving metformin. Arch Intern Med. 2006;166(18):1975-9.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Flavonoides do cacau possuem atividade prebiótica
Pesquisadores da Universidade de Reading, Reino Unido, investigaram o papel de flavonoides do cacau na ação prebiótica. O estudo foi publicado na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition e concluiu, pela primeira vez, que um flavonoide pode possuir atividade prebiótica, afetando significativamente o crescimento da microbiota intestinal benéfica.
As procianidinas são os flavonoides predominantemente encontrados no cacau e seus subprodutos. Estudos anteriores mostraram que os flavonoides do cacau possuem efeitos benéficos na diminuição do LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade) e da agregação plaquetária, além de melhorar a sensibilidade à insulina e a função endotelial. No entanto, a maioria das procianidinas do cacau não são absorvidas no intestino delgado e assim, passam para o intestino grosso onde podem influenciar a composição da microbiota residente.
Deste modo, o objetivo do estudo foi validar o potencial prebiótico de flavonoides do cacau em indivíduos saudáveis através de um estudo randomizado, duplo-cego, controlado e cruzado.
O estudo consistiu de 22 voluntários que foram divididos em dois grupos: alta concentração de flavonoides do cacau (grupo HCF), com 494 mg/d ou com baixa concentração de flavonoides do cacau (grupo LCF), com 29 mg/d durante 4 semanas. Os participantes foram instruídos a misturar o conteúdo de um sachê contendo os flavonoides em 150 mL de água, uma vez por dia, após a refeição da noite. Após o período de suplementação de quatro semanas, os participantes trocaram de grupo, ou seja, quem estava no grupo de alta dose passou para o grupo de baixa dose e vice-versa, caracterizando o cruzamento do estudo.
Para avaliar a composição da microbiota intestinal foram analisadas amostras de fezes dos participantes, antes e após cada intervenção. Além disso, foram coletadas amostras de sangue para dosagens de lipídios plasmáticos e proteina C-reativa (PCR).
No grupo HCF houve elevação significativa das bactérias benéficas, como Bifidobacterium (p<0,01) e Lactobacillus (p<0,001) e diminuição na contagem de bactérias patogênicas, como Clostridium (p<0,001) em comparação com o grupo LCF. Essas mudanças na microbiota intestinal também foram acompanhadas por reduções significativas nas concentrações de triacilglicerídeos (p<0,05) e proteína C-reativa (p<0,05).
A microbiota intestinal pode ser modulada pela utilização de pré e probióticos. Os prebióticos eficazes possuem baixa digestibilidade e biodisponibilidade, além de serem seletivos para o crescimento e metabolismo de bactérias benéficas.
Atualmente, os prebióticos mais usados são frutooligossacarídeos e galactooligossacarídeos, que melhoram o crescimento de Bifidobacterium e influenciam positivamente a absorção de minerais, metabolismo lipídico e sistema imunológico.
“Até o momento haviam informações limitadas quanto à capacidade dos flavonoides em influenciar o crescimento de bactérias intestinais”, comentam os pesquisadores.
“As alterações observadas ressaltam a capacidade desses flavonoides em induzir efeitos específicos no intestino, tornando-se um efeito adicional de fitonutrientes para a saúde. Embora mais estudos sejam necessários para confirmar esses achados, os resultados deste estudo sugerem que os componentes do cacau podem contribuir na saúde dos indivívuos”, concluem.
Referência(s)
Tzounis X, Rodriguez-Mateos A, Vulevic J, Gibson GR, Kwik-Uribe C, Spencer JP. Prebiotic evaluation of cocoa-derived flavanols in healthy humans by using a randomized, controlled, double-blind, crossover intervention study. Am J Clin Nutr. 2010 Nov 10. [Epub ahead of print]
As procianidinas são os flavonoides predominantemente encontrados no cacau e seus subprodutos. Estudos anteriores mostraram que os flavonoides do cacau possuem efeitos benéficos na diminuição do LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade) e da agregação plaquetária, além de melhorar a sensibilidade à insulina e a função endotelial. No entanto, a maioria das procianidinas do cacau não são absorvidas no intestino delgado e assim, passam para o intestino grosso onde podem influenciar a composição da microbiota residente.
Deste modo, o objetivo do estudo foi validar o potencial prebiótico de flavonoides do cacau em indivíduos saudáveis através de um estudo randomizado, duplo-cego, controlado e cruzado.
O estudo consistiu de 22 voluntários que foram divididos em dois grupos: alta concentração de flavonoides do cacau (grupo HCF), com 494 mg/d ou com baixa concentração de flavonoides do cacau (grupo LCF), com 29 mg/d durante 4 semanas. Os participantes foram instruídos a misturar o conteúdo de um sachê contendo os flavonoides em 150 mL de água, uma vez por dia, após a refeição da noite. Após o período de suplementação de quatro semanas, os participantes trocaram de grupo, ou seja, quem estava no grupo de alta dose passou para o grupo de baixa dose e vice-versa, caracterizando o cruzamento do estudo.
Para avaliar a composição da microbiota intestinal foram analisadas amostras de fezes dos participantes, antes e após cada intervenção. Além disso, foram coletadas amostras de sangue para dosagens de lipídios plasmáticos e proteina C-reativa (PCR).
No grupo HCF houve elevação significativa das bactérias benéficas, como Bifidobacterium (p<0,01) e Lactobacillus (p<0,001) e diminuição na contagem de bactérias patogênicas, como Clostridium (p<0,001) em comparação com o grupo LCF. Essas mudanças na microbiota intestinal também foram acompanhadas por reduções significativas nas concentrações de triacilglicerídeos (p<0,05) e proteína C-reativa (p<0,05).
A microbiota intestinal pode ser modulada pela utilização de pré e probióticos. Os prebióticos eficazes possuem baixa digestibilidade e biodisponibilidade, além de serem seletivos para o crescimento e metabolismo de bactérias benéficas.
Atualmente, os prebióticos mais usados são frutooligossacarídeos e galactooligossacarídeos, que melhoram o crescimento de Bifidobacterium e influenciam positivamente a absorção de minerais, metabolismo lipídico e sistema imunológico.
“Até o momento haviam informações limitadas quanto à capacidade dos flavonoides em influenciar o crescimento de bactérias intestinais”, comentam os pesquisadores.
“As alterações observadas ressaltam a capacidade desses flavonoides em induzir efeitos específicos no intestino, tornando-se um efeito adicional de fitonutrientes para a saúde. Embora mais estudos sejam necessários para confirmar esses achados, os resultados deste estudo sugerem que os componentes do cacau podem contribuir na saúde dos indivívuos”, concluem.
Referência(s)
Tzounis X, Rodriguez-Mateos A, Vulevic J, Gibson GR, Kwik-Uribe C, Spencer JP. Prebiotic evaluation of cocoa-derived flavanols in healthy humans by using a randomized, controlled, double-blind, crossover intervention study. Am J Clin Nutr. 2010 Nov 10. [Epub ahead of print]
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Quais são os alimentos com alegações de propriedade funcional aprovadas?
De acordo com a portaria no 398 de 30/04/99, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde no Brasil, alimento funcional é: "todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos á saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica".
A regulamentação atual no Brasil fornece as alegações sobre os componentes alimentares com propriedade funcional. Essas alegações são analisadas e aprovadas com base em diversos estudos científicos, por isso cada caso é avaliado independentemente. O uso destas alegações em qualquer alimento só será permitido após aprovação da Anvisa. Não são aprovadas alegações para ingredientes ou componentes dos alimentos, mas para o produto final que contenha esses ingredientes ou componentes.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a padronização das alegações favorece o entendimento dos consumidores quanto às informações e propriedades veiculadas nos rótulos dos alimentos.
Estão listados abaixo alguns exemplos de compostos alimentares com suas respectivas alegações de propriedades funcionais:
Referência (s)
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alegações de propriedade funcional Aprovadas. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br. Acessado em: 26/11/2010.
A regulamentação atual no Brasil fornece as alegações sobre os componentes alimentares com propriedade funcional. Essas alegações são analisadas e aprovadas com base em diversos estudos científicos, por isso cada caso é avaliado independentemente. O uso destas alegações em qualquer alimento só será permitido após aprovação da Anvisa. Não são aprovadas alegações para ingredientes ou componentes dos alimentos, mas para o produto final que contenha esses ingredientes ou componentes.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a padronização das alegações favorece o entendimento dos consumidores quanto às informações e propriedades veiculadas nos rótulos dos alimentos.
Estão listados abaixo alguns exemplos de compostos alimentares com suas respectivas alegações de propriedades funcionais:
Referência (s)
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alegações de propriedade funcional Aprovadas. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br. Acessado em: 26/11/2010.
Bebidas adoçadas com frutose aumentam o risco de gota entre mulheres
Pesquisadores norte-americanos publicaram na revista científica JAMA (The Journal Of the American Medical Association) um estudo que verificou que o consumo de bebidas adoçadas com frutose aumentou o risco para o desenvolvimento de gota em mulheres.
A gota é uma artrite inflamatória caracterizada pela hiperuricemia (elevação dos níveis de ácido úrico no sangue). Evidências sugerem que a gota está fortemente associada à síndrome metabólica, podendo levar ao infarto do miocárdio. Historicamente, vem sendo considerada uma doença do sexo masculino, mas evidências mostram o crescimento da incidência em mulheres idosas.
Embora bebidas açucaradas contenham baixos níveis de purinas (que é o precursor do ácido úrico), elas contêm grandes quantidades de frutose, que é o único carboidrato conhecido por aumentar os níveis de ácido úrico. A ingestão excessiva de frutose resulta em rápido aumento do ácido úrico sérico, através de acentuada degradação dos nucleotídeos purínicos e, consequentemente, aumento da síntese de purinas. Esse efeito pode ser encontrado especialmente em indivíduos com hiperuricemia ou histórico de gota.
Neste estudo, os autores avaliaram prospectivamente a relação entre a ingestão de bebidas ricas em frutose e a incidência de gota em uma coorte de 78.906 mulheres sem histórico de gota.
Para avaliar a ingestão dietética, incluindo o consumo de bebidas, foi utilizado um questionário de frequência alimentar validado, no período de 1984 e 2006.
Durante 22 anos de seguimento, foram documentados 778 casos confirmados de gota. As mulheres que consumiram uma porção por dia, de bebidas adoçadas com frutose (como os refrigerantes que não são dietéticos), tiveram um aumento de 74% do risco de gota (risco relativo de 1,74 e intervalo de confiança de 95% [IC]: 1,19-2,55) em comparação com o consumo de menos de uma porção por mês. Já as mulheres que consumiram duas ou mais porções por dia tiveram um risco 2,4 vezes maior (risco relativo de 2,39 e 95% IC: 1,34-4,26) (p<0,001), também comparadas com o consumo de menos de uma porção por mês.
O consumo excessivo de suco de laranja adoçado com frutose também foi associado com o risco de gota. As mulheres que consumiram uma porção por dia desta bebida apresentaram risco 41% maior de desenvolver gota (risco relativo de 1,41 (95% IC: 1,03-1,93), e também houve risco 2,4 vezes maior quando o consumo foi de duas ou mais porções por dia (p=0,02), em comparação com as mulheres que consumiram menos de um copo de suco de laranja por mês,. Entretanto, o consumo de refrigerantes dietéticos não foi associado com o risco de gota.
“Nossos resultados fornecem evidências prospectivas que o consumo de refrigerantes e sucos de laranja adoçados com frutose está associado com risco aumentado da incidência de gota em mulheres”, explicam. “Por isso, nossas descobertas têm implicações práticas para a prevenção de gota em mulheres. Este fato serve de alerta para os profissionais da saúde, que devem estar cientes dos efeitos destas bebidas sobre o risco de gota”, concluem.
Referência(s)
Choi HK, Willett W, Curhan G. Fructose-rich beverages and risk of gout in women. JAMA. 2010;304(20):2270-8
A gota é uma artrite inflamatória caracterizada pela hiperuricemia (elevação dos níveis de ácido úrico no sangue). Evidências sugerem que a gota está fortemente associada à síndrome metabólica, podendo levar ao infarto do miocárdio. Historicamente, vem sendo considerada uma doença do sexo masculino, mas evidências mostram o crescimento da incidência em mulheres idosas.
Embora bebidas açucaradas contenham baixos níveis de purinas (que é o precursor do ácido úrico), elas contêm grandes quantidades de frutose, que é o único carboidrato conhecido por aumentar os níveis de ácido úrico. A ingestão excessiva de frutose resulta em rápido aumento do ácido úrico sérico, através de acentuada degradação dos nucleotídeos purínicos e, consequentemente, aumento da síntese de purinas. Esse efeito pode ser encontrado especialmente em indivíduos com hiperuricemia ou histórico de gota.
Neste estudo, os autores avaliaram prospectivamente a relação entre a ingestão de bebidas ricas em frutose e a incidência de gota em uma coorte de 78.906 mulheres sem histórico de gota.
Para avaliar a ingestão dietética, incluindo o consumo de bebidas, foi utilizado um questionário de frequência alimentar validado, no período de 1984 e 2006.
Durante 22 anos de seguimento, foram documentados 778 casos confirmados de gota. As mulheres que consumiram uma porção por dia, de bebidas adoçadas com frutose (como os refrigerantes que não são dietéticos), tiveram um aumento de 74% do risco de gota (risco relativo de 1,74 e intervalo de confiança de 95% [IC]: 1,19-2,55) em comparação com o consumo de menos de uma porção por mês. Já as mulheres que consumiram duas ou mais porções por dia tiveram um risco 2,4 vezes maior (risco relativo de 2,39 e 95% IC: 1,34-4,26) (p<0,001), também comparadas com o consumo de menos de uma porção por mês.
O consumo excessivo de suco de laranja adoçado com frutose também foi associado com o risco de gota. As mulheres que consumiram uma porção por dia desta bebida apresentaram risco 41% maior de desenvolver gota (risco relativo de 1,41 (95% IC: 1,03-1,93), e também houve risco 2,4 vezes maior quando o consumo foi de duas ou mais porções por dia (p=0,02), em comparação com as mulheres que consumiram menos de um copo de suco de laranja por mês,. Entretanto, o consumo de refrigerantes dietéticos não foi associado com o risco de gota.
“Nossos resultados fornecem evidências prospectivas que o consumo de refrigerantes e sucos de laranja adoçados com frutose está associado com risco aumentado da incidência de gota em mulheres”, explicam. “Por isso, nossas descobertas têm implicações práticas para a prevenção de gota em mulheres. Este fato serve de alerta para os profissionais da saúde, que devem estar cientes dos efeitos destas bebidas sobre o risco de gota”, concluem.
Referência(s)
Choi HK, Willett W, Curhan G. Fructose-rich beverages and risk of gout in women. JAMA. 2010;304(20):2270-8
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